Não é de hoje que podemos relacionar a usabilidade com estudos sobre psicologia e a mente humana. Na verdade, esse tipo de estudo é bastante complexo e envolve diversos conceitos como:
- percepção;
- atenção;
- pensamento;
- resolução de problemas;
- emoção;
- conhecimento.
Além desses tópicos, não poderíamos deixar de falar sobre um assunto extremamente relevante quando pensamos na mente humana: a memória.
A memória e o conhecimento andam juntos, e o assunto se subdivide em um número incontável de sub-tópicos, portanto há uma infinidade de conteúdo sobre o assunto. Porém, o tema é extremamente conectado ao comportamento dos usuários diante de processos interativos, e é de extrema importância que você entenda como isso afeta a forma e o comportamento de seu público alvo.
Modelo mental da memória
Dentro dos estudos de UX e usabilidade, dividimos o modelo mental da memória em 3 tipos:
- Memória sensorial (snapshot): é a memória do instante. Tem uma duração muito curta (menor que 1 segundo) e uma capacidade muito limitada de armazenar informações;
- Memória de curta-duração (temporary buffer): também conhecida como memória primária. Em geral expira após 30 segundos. Ainda tem uma capacidade limitada de armazenamento, mas é maior que a memória sensorial;
- Memória de longa-duração (permanent store): a duração é ilimitada, assim como a capacidade do que se armazena.
Neste artigo, abordemos com mais profundidade e foco a memória de curta-duração.
Memória de curta-duração
A STM (short-term memory) é uma faculdade mental capaz de armazenar uma quantidade limitada de informações em estado extremamente acessível, temporariamente.
Dentro da STM existe o conceito da Memória de Trabalho (WM — working memory), que atua dentro da capacidade de acessarmos informações relevantes em relação às tarefas do dia a dia. A forma com que nós, UX/UI Designers, trabalhamos aqui vai influenciar severamente na usabilidade de nossos projetos.
Pense na forma que você categoriza um número de telefone. Em geral, no Brasil, usa-se o formato (01) 23456–7890.
Por que não usamos simplesmente 01234567890? Porque a WM tem mais facilidade de armazenar blocos menores de informação.
Dentro deste estudo, existe o Magic Number 7, que aponta que as pessoas têm a capacidade de se lembrar de blocos que tenham em torno de 7 dígitos (variando para 2 dígitos a mais ou a menos). Isto não quer dizer que você vai dividir tudo por 7, mas lembre se dos pequenos blocos de informação, pois blocos maiores vão sobrecarregar a WM.
Como exemplo, vamos ver alguns pontos relacionados à WM que devemos considerar dentro dos projetos de usabilidade.
Tutoriais complexos podem gerar sobrecarga

Não vamos entrar na famosa discussão de que “projeto bem feito não precisa de instruções”, porque isso é algo completamente relativo. O que importa é como e quando essa informação é apresentada para que não crie uma carga extra no que o usuário pode armazenar.
O ideal para estes cenários é aplicar o sistema de ajuda just in time, que consiste em contextualizar a ajuda ao ambiente e ao momento em que é necessária.
Veja que interessante este comentário do Jakob Nielsen sobre o assunto:
Placeholders: sobrecarregam a WM

Utilizar campos de formulário sem rótulos, apoiados apenas em placeholders, é uma prática bem perigosa. Ao preencher um formulário, especialmente mais longos, usuários podem facilmente ser distraídos por outras coisas (outras abas, notificações, documentos que precisam para finalizar o preenchimento, etc.) e perder o fio da meada ao retornarem, além de terem dificuldades em revisar o que foi feito antes de submeter os dados.
Dica de Leitura: Leis de UX – Os Princípios Básicos de UX Design
Mostrar links visitados aliviam a WM

Comumente ignorado, o recurso de marcar links visitados é um aliado importante para ajudarmos a manter a WM leve e limpa para o que realmente importa em um projeto.
Tabelas de comparação minimizam a carga da WM

Tabelas de comparação são um bom exemplo de como exibir um grande número de informações sem sobrecarregar a WM. Tente pegar uma tabela complexa e comparar os dados. É uma boa forma de você analisar como você mesmo(a) absorve as informações nestas situações e entender parte de como isto funciona (o que você lembra, o que não lembra).
Tabelas são elementos cruciais do processo de escolha do usuário, portanto é preciso levar em conta diversos fatores que podem levar ao sucesso ou ao fracasso.
Conclusão
Este é um assunto muito vasto, e não tocamos nem no cantinho da unha do dedo mínimo do tema. Porém é um assunto de extrema importância e de altíssimo impacto no resultado de projetos digitais, e comumente deixado de lado quando profissionais consideram suas decisões de design.
Esperamos que essas dicas tenham ajudado a você a entender a importância do tema e a começar a explorar o assunto.